quarta-feira, 4 de maio de 2016

NÃO HÁ SALVAÇÃO FORA DA IGREJA CATÓLICA?


“Em nenhum outro nome há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” – At 4,12.

Quando o Cardeal Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, no Pontificado de São João Paulo II, escreveu a Declaração “Dominus Iesus” e colocou em relevo esta verdade de Fé, houve reações de todos os tipos. Alguns diziam que “a Igreja havia errado ao escrever este documento num momento tão propício para o diálogo ecumênico”(um conceito bem fajuto de ecumenismo, diga-se de passagem). Os cristãos que não comungam da totalidade da Fé, assim como judeus e muçulmanos, manifestaram-se, evidentemente. Os teólogos da Libertação apelidaram o Cardeal de “Exterminador Ratzinger” e viram no Documento um freio no “progresso ecumênico” da Igreja. Os considerados de “extrema direita do catolicismo” - e como é triste aplicar "categorias sociais" no Corpo de Cristo - usaram-se desta afirmação para, de verdade, fazer aquilo que os teólogos da libertação diziam (acabando por lhes dar certo grau de razão): Começaram a destruir qualquer vestígio de comunhão e diálogo com denominações cristãs e não-cristãs (diálogo interreligioso), incitando até mesmo o ódio aos “não-católicos” – entenda-se como não-católicos a todos os que não comungam da totalidade da Fé Católica.

Dentro desta “Extrema Direita Católica” há, por mais incrível que isso possa parecer, Comunidades de Vida e Aliança, Fraternidades e Grupos oriundos da Renovação Carismática Católica. É interessante, mas a Renovação Carismática é tachada de “Conservadora” (quem diria!) entre os “libertadores” – por sua fidelidade e amor ao Vigário de Cristo na Terra, o Papa. Mas, dentro da Renovação Carismática, ou melhor, oriundos da RCC, como dizíamos, ainda há aqueles que, a despeito da própria natureza do “Movimento Carismático” – usando a expressão do Cardeal Leo Suennes – tomam posturas antiecumênicas, contrárias ao próprio ensinamento e desejo profundo da Santa Igreja, explicitado recentemente em documentos como Unitatis Redintegratio, Ut Unum Sint, dentre tantos outros esforços, declarações conjuntas e afins. Demonstram grande fidelidade a “Verdade Católica”, mas dilaceram o Corpo de Cristo com seu “Cristianismo Intolerante e Xiita”, dando suma importância as peculiaridades da liturgia, mas decepando e alimentando o ódio contra os demais cristãos que não comungam da totalidade da fé. Não somente isso: são autênticos algozes que espreitam os homens de Deus e procuram neles erros litúrgicos, a despeito dos frutos de santidade e salvação que eles possam gerar para a Igreja.

A Sagrada Liturgia merece todo o nosso cuidado, amor e esmero! Fui formado pelos Padres Legionários de Cristo por oito anos... Estudei as línguas clássicas (latim e grego) e aprendi a apreciar o Canto Gregoriano, assim como o órgão como instrumento litúrgico. Mas a principal característica dos Legionários de Cristo, a despeito do que muitos pensam, não está no doentil comportamento saduceu do rigor litúrgico ao extremo, mas na essência de seu carisma: A Caridade Cristã! Aprendi que, na Eucaristia, tenho a Toda a Igreja. Ferir a unidade da Igreja ou impedir a plena comunhão da mesma é equivalente a desrespeitar o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia! Ou seja: É sacrilégio!

Então, este texto se destina a esclarecer este dogma de Fé da Igreja, respondendo aos “Carismáticos Xiitas” – jamais pensei que um dia teríamos esta classe em meio a nós – e todos os que desejam viver o Catolicismo autêntico – e não o “de Paulo” ou o “de Apolo” – dentro dos sentimentos e desejos desta Igreja.

1. O que é a Igreja Católica?
O capítulo nono dos Atos dos Apóstolos relata que havia um homem por nome Saulo que se dirigia a Damasco, ardendo em ódio contra a Igreja. O Senhor Jesus derrubou-o no caminho interrogando-lhe: “Saulo, Saulo, por que ME persegues”? Saulo indaga “quem és Tu, Senhor”, e ouve a seguinte resposta: “Eu Sou Jesus, a quem tu persegues”.

Ora, Saulo não perseguia a “pessoa de Jesus” (que já havia ascendido aos céus), mas sim à Igreja. Jesus, então, faz Saulo, convertido em Paulo Apóstolo, entender que ELE, JESUS, É A IGREJA! Jesus estava dizendo a Saulo: “Eu sou a Igreja a quem você persegue”.

O título deste primeiro tópico é, propositalmente, impreciso. Na língua portuguesa usamos o pronome relativo “que” para coisas e “quem” para pessoas. A Igreja, em sua realidade espiritual, não é um “o que”, mas um “quem”: A Igreja é Jesus (falando em termos análogos, é evidente!). Nós não somos tão somente a Assembleia dos que seguem os ensinamentos de Jesus de Nazaré... Não! Nós somos o Corpo deste Jesus, enxertados NELE pela graça do Batismo Sacramental. O Espírito que nos introduziu na vida Divina é o Espírito do Filho Unigênito, que nos faz clamar “Abbá, Pai”!

O Capítulo doze da Primeira Carta aos Coríntios trata justamente desta grande verdade: A Igreja não é uma Associação, uma ONG, ou um aglomerado de pessoas que acreditam nos mesmos artigos de Fé tão somente... A Igreja é o Corpo de uma Pessoa Divina!

2. Una, Santa, Católica e Apostólica 

Estes quatro adjetivos definem muito bem a natureza da Igreja.

“Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos”- Ef 4,5.

Só existe uma Igreja – Una – pois há um só Senhor, uma só fé e um só batismo! Portanto, há um único Corpo, e os que recebem o batismo legitimamente são enxertados neste Corpo. Jesus Cristo é a Igreja! Portanto, sem a Igreja – Mystici Corporis Christi – não há Salvação, pois, o único caminho de salvação que nos foi revelado é o da “incorporação” dos fiéis no Corpo de Cristo. Ser salvo é “ser de Cristo”... é conformar a Igreja.

Esta Igreja é Santa, pois é Corpo do Senhor. Cantamos, todos os domingos, no Hino de Louvor “Gloria in excelsis Deo”: “Tu Solus Sanctus, Tu Solus Dominus, Tu Solus Altissimus, Iesu Christe” (Só vós sois o Santo, Só vós o Senhor, Só vós o Altíssimo, Jesus Cristo). Somos batizados para a nossa Salvação! A Igreja, quando declara que alguém é Santo, está dizendo, por sua autoridade de ligar e desligar, que este alguém está na perfeita União com Jesus Cristo, no Céu! Ele é o Único Santo e ser santo significa “ser encontrado NELE”!

Esta Igreja é Católica, pois o Senhor, desde o princípio, quando escolheu Abraão e formou, por sua descendência, o Seu Povo Escolhido, tinha o intuito de abençoar a todas as nações da Terra! Cumprindo a promessa escrita no livro do Profeta Joel, derramou o seu Espírito sobre toda a carne. A experiência do Apóstolo Pedro na casa do Centurião Cornélio – At 10,9-48 – foi, sem dúvida alguma, um marco nesta compreensão de Igreja como salvação do Mundo inteiro (Católica significa Universal, evidentemente). Dizer que a Igreja é Católica significa dizer que ela é a Salvação do Mundo inteiro.

O Catecismo da Igreja Católica, sobre isso, nos ensina que cada homem será julgado por sua fidelidade à sua própria consciência, seja qual for a sua religião ou “falta de religião”. Deus o julgará de acordo com suas obras. A Salvação, contudo, só é possível aos homens por meio de Jesus Cristo! Se Ele não tivesse nos remido no lenho da Cruz, não haveria justiça alguma para homem algum. O desejo salvífico de Deus pode alcançar a todos os homens da Terra porque uma Porta foi aberta nos céus, e esta Porta se chama JESUS CRISTO – IGREJA CATÓLICA!

A Igreja considera isso possível acreditando na Infinita e Ilimitada graça de Deus. Ela crê que se este “alguém”, tido como fiel à sua consciência, tivesse ouvido a Boa Nova de modo convincente, certamente esta pessoa teria pedido o Batismo! Quantas pessoas, espalhadas pelo mundo inteiro, estão à espera de um missionário que lhes anuncie a Boa Nova da Salvação de modo autêntico...

A Igreja é Apostólica. Foi Jesus quem, dentre a multidão de discípulos, escolheu doze homens. Foi Jesus quem, olhando para Simão, deu-lhe o sobrenome de “Cefas”, como bem recorda o Evangelista João. Foi Jesus quem lhe disse “Tu és Pedro e sobre esta Pedra eu edificarei a minha Igreja”. Foi Jesus quem, ressuscitado, apareceu a Simão Pedro e lhe disse “apascenta as minhas ovelhas”. A Igreja, Corpo de Jesus Cristo, foi confiada aos Apóstolos numa linha ininterrupta, que perpassou os séculos e chegou intocável até aos nossos dias. A Igreja esteve, está e estará sempre sobre a coluna dos Apóstolos, que a mantém fiel ao depósito da Fé. Portanto a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica é Sacramento de Salvação para a Humanidade inteira.

3. Quem pertence a Igreja Católica?
 
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus” – At 2,39.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que o Sacramento do Batismo nos insere no Corpo Místico de Cristo, motivo pelo qual nos tornamos filhos de Deus! Este Batismo tem um caráter indelével, no sentido de que é inapagável. Nem mesmo as chamas do fogo do inferno podem apagar a marca do Batismo.

Todo o “Cristão batizado” é membro do Corpo Místico de Cristo. Não existem “batismos” e “igrejas”, mas um só Batismo, que nos insere no único Corpo do Senhor. Portanto, todo o Cristão, legitimamente batizado, é membro da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, dado que não existem outras Igrejas. A Doutrina é muito clara: O Corpo pode ser “sectado”, “dividido”, mas a parte sectada ou dividida não constitui outro Corpo... Trata-se de um membro separado. Portanto, apesar de respeitarmos e denominarmos certos grupos como Igrejas – no sentido etimológico de “Assembleia” – não queremos dizer, em momento algum, que verdadeiramente eles constituem “outro Corpo”.

Se as chamas do inferno, destinada ao condenados, não é capaz de retirar o selo batismal, quanto mais as diferenças doutrinárias – pecado dos homens – é capaz de apagar a graça que nos torna membros de um único Corpo em Cristo Jesus.

Todos os Cristãos (ditos evangélicos, ortodoxos, etc.), aceitando eles ou não, uma vez que receberam o Batismo, foram enxertados na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, da qual receberão a salvação, de acordo com as suas obras que necessitam ser condizentes com sua fé! É por isso que o saudoso Papa João Paulo II referia-se aos cristãos que não comungam da totalidade da fé de “irmãos separados”.

Isso precisa ficar muito claro: O Espírito Santo nos é conferido pelo Batismo! Ninguém pode dizer que Jesus Cristo é o Senhor se não for pela ação do Espírito Santo.

4. Eu Sou a Verdade
 
O Papa João Paulo II escreveu um Encíclica chamada “Veritatis Splendor”, onde Ele fala justamente do grandioso Esplendor da Verdade, que é o Próprio Cristo! O Catecismo da Igreja Católica ensina que Cristo Jesus é a “Imagem de Deus” – Imago Dei – e quando o Livro do Gênese ensina que fomos criados à Imagem e Semelhança de Deus devemos saber que, pela Onisciência de Deus, Ele nos fez para que fôssemos semelhantes a seu Filho Unigênito, para que fôssemos a sua Imagem e Semelhança.

Nós encontramos em todo o gênero humano e em todas as culturas, traços de Deus. Embora o pecado original tenha corrompido a consciência humana, sabemos que ficaram os resquícios desta imagem e semelhança. São Justino Mártir, convertido nos primeiros séculos, era filósofo. Ele afirma ter encontrado em Jesus Cristo a plenitude, a resposta de todo o pensamento dos filósofos. É São Justino quem vai falar-nos sobre “as sementes do Verbo Encarnado” presentes em todas as culturas e em todo o ser humano. Mais ainda, dizemos que todos os seres são “Bons, Verdadeiros, Belos”, o que torna Jesus Cristo Senhor do Universo, mas já é filosofia demais para o que queremos defender aqui... Basta-nos saber, aqui, que Jesus Cristo é a Verdade, que a Igreja é o Corpo de Jesus. Os elementos de Verdade existentes nas mais diversas culturas e religiões podem ser consideradas como verdades porque, nestes temas específicos, expressam o que a Igreja expressa! A Igreja Católica tem plena autoridade de dialogar com todo homem, de qualquer cultura e religião, com a consciência de que é “serva e custódia da verdade”. Se a Igreja Católica diz que Jesus Cristo é Deus e um Judeu Messiânico diz “Jesus Cristo é Deus”... Não são duas verdades... Mas uma mesma e única verdade, e, nisto, nós temos comunhão!

Toda a Verdade é custodiada pela Igreja Católica, seja qual for a “natureza” desta verdade. São Justino chegou a “canonizar” o Filósofo Sócrates dizendo: “Sto. Socrates, ora pro nobis”, pelo fato do Filósofo ter morrido por dar testemunho da verdade.

Por que será que existem vários tipos de ritos litúrgicos na Santa Igreja? Por que ela não tem medo de dialogar com as mais variadas culturas e, até, de incorporar no seu modo de celebrar, elementos das culturas dos povos, desde que isso não negue ou vá contra qualquer verdade da fé, ou contra o sentido daquilo que se celebra.
 Sobre o Esplendor da Verdade, Santo Tomás de Aquino afirmou que “a verdade é sempre inspirada pelo Espírito Santo, vinda de quem venha”.
Há um acontecimento muito interessante no Evangelho que nos esclarece algo sobre o Esplendor da Verdade: Jesus estava expulsando os demônios e estes, ao avistá-lo, começaram a gritar que Ele era o filho de Deus Vivo! Pergunto: Esta afirmação, dita por demônios, é verdadeira? ... Sim, ela é! O fato de ela ter sido dita pelos demônios não diminuiu nem comprometeu a verdade, porque ELA (a verdade) independe da boca de quem a fala.
“Todo o joelho se dobrará e toda a língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.


5. A Renovação Carismática Católica e seu cunho Ecumênico
 
Compreendendo a grandiosidade da Igreja Católica e seu Esplendor é que dizemos: Toda e qualquer verdade professada por qualquer denominação cristã o é porque condiz com o Depósito da Fé da Igreja Católica, é, como afirma Unitatis Redintegratio, um Patrimônio Comum! E, se pertence ao depósito de Fé da Igreja, se é patrimônio comum... Esta verdade é NOSSA! Tudo o que for extraído das Sagradas Escrituras pertence à Igreja Católica!

Em 2006 a Igreja Católica foi representada por membros do ICCRS (International Catholic Charismatic Renewal Services – Serviços Internacionais da Renovação Carismática Católica) no Evento que comemorou os 100 anos daquele que é considerado o marco inicial do Movimento Pentecostal no Mundo: O Avivamento de Azuza Street (Los Angeles, 1906). Dentre os membros do ICCRS presentes naquele Evento, estava o Sr. Reinaldo Beserra dos Reis, membro do Conselho Nacional da RCC. Um dos Preletores do Evento, ao falar do início do Movimento Pentecostal, afirmou que tudo começou quando uma Freira italiana, por nome Elena Guerra, teve uma experiência com o Espírito Santo em sua vida e começou a escrever cartas para o Papa Leão XIII, quem, em atenção a Palavra da Freira, consagrou o Século XX ao Espírito Santo. Aqui, reconhece o pastor, teve início o Movimento Pentecostal.

 O Concílio Vaticano II era um Concílio Ecumênico! A grande petição do Papa São João XXIII era que o Espírito Santo realizasse, em nossos dias, os prodígios de outrora! O próprio Papa havia visitado uma aldeia na Itália onde havia manifestações carismáticas, muito antes de se realizar o Concílio.
Em 1967, contudo, depois de três professores da Universidade de Duquesne terem lido alguns livros como “A Cruz e o punhal” e “Eles falam em outras línguas”, e depois de terem experimentado a experiência que, na RCC, ficou conhecida como “Batismo Espírito Santo” em meio de reuniões e círculos bíblicos com cristãos de outras denominações do Movimento Pentecostal, estes professores organizaram o final de semana de Duquesne, em fevereiro de 1967, que foi o marco inicial da Renovação Carismática Católica. O Padre Edward O’Connor, sacerdote que a Conferência Episcopal do Estados Unidos colocou para acompanhar o grupo de carismáticos católicos, chamou aquele grupo de Movimento Pentecostal Católico. O Cardeal Leo Suennes chamou este sopro do Espírito de “Movimento Carismático”.

 O Movimento Pentecostal é o maior Movimento já surgido na História do Cristianismo! Pelo fato de tocar a todos os Cristãos, é também o mais Católico deles! Não deve haver nenhum tipo de receio, por parte dos carismáticos, quanto a suas origens... Somos Catolicíssimos, digamos assim.

Depois do Concílio Vaticano II o primeiro grupo a dialogar com os cristãos pentecostais foi a RCC! A Renovação, segundo o famoso Documento de Malinas, escrito pelo Cardeal Leo Suennes, com a cooperação de vários teólogos, é essencialmente católica e, portanto, essencialmente ecumênica. Trata-se de um sopro do Espírito que vem para curar a maior ferida do Cristianismo: A Divisão!

Desde o início da RCC é perceptível o uso de hinos de autores evangélicos e é inegável a semelhança no modo de louvar, pregar, etc. Isso, de modo algum, diminui a nossa catolicidade. Desde seus primórdios a RCC só arrancou elogios e apoio dos Sumos-Pontífices. Nada que esteja de acordo com o Depósito de Fé da Igreja pode menos que fazer-nos Membros desta Igreja!

6. Conclusão
 
Nossa maior certeza e alegria é que “debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” que não seja o nome de Jesus Cristo, cujo corpo é a Igreja Católica.

Na Sagrada Eucaristia está presente o “Christus Totus” – o Cristo Todo – como reafirmou o Papa João Paulo II em sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”. Na Eucaristia nós recebemos Corpo do Senhor Jesus Cristo, recebemos a Igreja! Tomar uma postura semelhante arredia aos irmãos separados, dedicando-nos a agredir uns aos outros é, no mínimo, um pecado contra o Corpo de Cristo.
Também é ofensa à Santa Mãe de Deus, que gerou em Seu Ventre a Igreja – Jesus – e que é Mãe de todos os Cristãos, aceitando eles ou não, pois o fato de sectarmos o corpo de seu filho Jesus e de semearmos ódio pelos nossos irmãos que não comungam da totalidade da fé, mas que são, de fato, filhos, é agravo ao Imaculado Coração.
“Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” – Jo 17, 21. 
O Mundo não tem crido porque nós dividimos a Igreja! Senhor, perdoa-nos e derrama o Teu Santo Espírito, a fim de que a Verdade liberte a todos!



terça-feira, 17 de novembro de 2015

SOBRE A LICITUDE DE CANÇÕES DE AUTORES QUE NÃO ESTÃO EM PLENA COMUNHÃO COM A IGREJA CATÓLICA




Desejo abordar este tema deixando de lado todo e qualquer modo de exposição “apaixonado”, “temperamental” ou “irônico” que possa vir a causar o fechamento do coração por parte de irmãos e irmãs honestos intelectualmente e que desejam uma palavra equilibrada sobre este tema.

Perceba, em primeiro lugar, o título do artigo: SOBRE A LICITUDE DE CANÇÕES DE AUTORES QUE NÃO ESTÃO EM PLENA COMUNHÃO COM A IGREJA CATÓLICA. A profissão de fé, amigos e amigas, é própria de seres livres; é própria de PESSOAS. Uma escultura, um livro, uma canção, uma pintura, um edifício não faz “confissão de fé”. Nós dizemos que uma “coisa” é ou não “católica” a julgar pelo seu conteúdo. Não é a autoria o que confere ou retira a catolicidade de uma obra, mas tão somente o seu conteúdo. Infelizmente, há bispos, padres, religiosos, consagrados e leigos escrevendo, cantando e compondo coisas que não são católicas, e o fato de que os autores o sejam, não confere catolicidade a essas obras necessariamente.

É necessário que façamos uma afirmação categórica: No Culto Católico – e eu uso a palavra “culto” para abranger todas as assembleias de oração existentes na nossa Igreja, quer elas sejam litúrgicas, quer não – a canção precisa ser necessariamente e 100% Católica!

E o que é que confere ou retira catolicidade a uma obra?

1.       Conteúdo Doutrinário: Uma obra pode ser considerada “católica” se estiver de acordo com o Depósito da Fé da Igreja, custodiado e transmitido a nós pelo Magistério.
2.       No caso de uma Assembleia litúrgica, além de reta doutrina, a canção deve ter melodia apropriada e deve estar de acordo com o sentido da ação litúrgica que se celebra.

Então, mesmo que o autor seja um Bispo ou um Padre, se estes requisitos não são obedecidos, a obra é carente de catolicidade.

Dentro deste mesmo raciocínio, por outro lado, se uma obra está de acordo com estes requisitos listados acima, ela é “católica”, mesmo que seu autor, por algum motivo, não o seja.

Quando estudamos patrística e patrologia, amigos e amigas, autores como Tertuliano e Orígenes nos edificam muito com seus escritos. Contudo, nem tudo o que estes autores nos deixaram é condizente com a Doutrina Católica; isto, contudo, não desmerece em nada às obras realmente católicas eles nos deixaram.

Santo Tomás de Aquino, chamado de Doutor Angélico, afirmou:

“Toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo.”

Nesta mesma linha de raciocínio, Santo Tomás ainda diz:

“... Não olhes por quem são ditas, mas o que dizem.”

Santo Tomás beneficiou-se amplamente da filosofia pagã em sua principal obra: Suma Teológica.

Se nós podemos nos beneficiar da verdade, não obstante a profissão de fé do autor, desde que A OBRA condiga com a doutrina da fé, não é escândalo que afirmemos: Nós encontramos obras artísticas que nos enriquecem profundamente no conhecimento da verdade que são oriundas de autores ortodoxos e protestantes no campo da Teologia e da Fé!

O Documento Conciliar Unitatis Redintegratio, a partir do parágrafo quatro (4) diz assim:

Por outro lado, é mister que os católicos reconheçam com alegria e estimem os bens verdadeiramente cristãos, oriundos de um patrimônio comum, que se encontram nos irmãos de nós separados. É digno e salutar reconhecer as riquezas de Cristo e as obras de virtude na vida de outros que dão testemunho de Cristo, às vezes até à efusão do sangue. Deus é, com efeito, sempre admirável e digno de admiração em Suas obras.

Vejam só: O Documento diz: Deus é, com efeito, sempre admirável e digno de admiração em Suas obras. A pessoa que escreveu, compôs ou seja lá o que for, não está em plena comunhão, o que é muito triste. Mas, ali, naquele conteúdo que procede do nosso patrimônio comum, essa obra pode ser considerada como inspirada pelo Espírito Santo, o que significa dizer que ela pode ser considerada como obra de Deus!

O Documento continua:

Nem se passe por alto o fato de que tudo o que a graça do Espírito Santo realiza nos irmãos separados pode também contribuir para a nossa edificação. Tudo o que é verdadeiramente cristão jamais se opõe aos bens genuínos da fé, antes sempre pode fazer com que mais perfeitamente se compreenda o próprio mistério de Cristo e da Igreja.

O Espírito Santo, autor da Verdade, age nos irmãos de nós separados e o que Ele faz lá, por meio deles, pode de fato contribuir para a nossa edificação, nos ajudando a crescer na nossa compreensão acerca do mistério de Cristo e da Igreja!

Acredito que a base doutrinária já tenha sido lançada. Isto é tudo? Não...

A Doutrina precisa caminhar junto com a PASTORAL. Uma não pode apagar ou prescindir da outra.
Pastoralmente, amigos e amigas, faz-se necessário um profundo trabalho de formação dos nossos irmãos e irmãs na fé católica. Infelizmente, o desconhecimento da fé é tão grande que vemos nosso povo cantando coisas doutrinariamente erradas com muita frequência (tanto de autores “não católicos” quanto de autores católicos). Urge que nossos pregadores, formadores, ministros de louvor e todo aquele que usa da palavra em nossos grupos de oração sejam autênticos transmissores da fé católica.

O que não pode acontecer, irmãos e irmãs, é que nós estejamos criando alfândegas que a Igreja não cria. Se um irmão ou irmã deixa a fé católica depois de passar por nossos grupos de oração e retiros é porque não fizemos o pastoreio, nosso testemunho não foi ardoroso e não pregação foi defeituosa. Nos tempos em que a Renovação Carismática Católica mais cresceu e desenvolveu no Mundo todo, amigos e amigas, as canções de autores “não católicos” eram quase unânimes em nosso meio. E não somente isto: Passávamos livros de autores não católicos para que as pessoas entendessem a nossa experiência de pentecostes. Nem por isto a RCC foi instrumento de esvaziamento das nossas paróquias; aconteceu o contrário. Hoje, graças a Deus, abundam as canções de autores católicos, bem como livros e apostilas de autores católicos: Glória a Deus! Estas canções e livros devem ser priorizados entre nós por uma questão até de justiça: Eu devo amar e valorizar esse irmão que luta pela extensão do Reino lado a lado comigo. Isto, contudo, amigos, não significa que devamos agora, a despeito de nossa ORIGEM e HISTÓRIA, criar sanções e restrições que nosso movimento e nem a Igreja jamais criaram.

Nosso problema se resolve com pastoreio, intercessão, formação, pregação e testemunho.

Algumas possíveis indagações:

Se existe uma infinidade de conteúdo de autores católicos, porque ler ou escutar um autor que não seja católico?

Vou elencar alguns porquês:

1.       Porque a verdade provém do Espírito Santo. Por causa do autor da Verdade, o Espírito Santo, toda a verdade é digna de ser lida e ouvida. Existe a questão pastoral e pedagógica também, que precisa ser levada em conta... É verdade que o “povão” não tem formação e que se confunde? É verdade sim. Eu só acho, amigos e amigas, que isso se resolve promovendo formação doutrinária ao invés de uma alfândega para a ação do Espírito Santo. Pergunte-se: O que está sendo dito é a verdade? O conteúdo é “católico”? Então, ele pode muito bem ser bem-vindo.

2.       Outro porque pra essa indagação: Porque embora nós tenhamos o “Christus Totus” na nossa doutrina, a compreensão dessa doutrina não é algo estagnado, mas está em constante progresso. É por isso que Unitatis Redintegratio afirma que os autores “não-católicos” podem nos ajudar na compreensão do mistério de Cristo. O Papa Bento XVI, no seu último discurso falando ao clero de Roma, disse que os exegetas protestantes fizeram avanços importantíssimos nessa área enquanto os católicos andavam meio que “estagnados”, motivo pelo qual havia uma grande expectativa no Concílio Vaticano II – e eu estou falando de Bento XVI, hein. O Papa usou profundamente a obra de um Rabino em seu livro Jesus de Nazaré. O Frei Raniero Cantalamessa cita Kierkegaard e outros autores em dezenas de livros. O Pe. Fortea, um dos exorcistas mais renomados do mundo, citou o importante trabalho de autores pentecostais evangélicos sobre o assunto da “Batalha Espiritual” num pronunciamento que ele fez a Padres reunidos num Congresso. Ora, meus amigos: Por que é que esses homens perdem seu tempo lendo esses autores se existe um sem fim de obras de autores católicos pra serem lidas, não é mesmo? Por que será? Porque há, em outras tradições cristãs, riquezas que podem iluminar a nossa compreensão do mistério de Cristo e da Igreja das quais esses homens humildes e sábios não querem se abster.

3.       Vamos a um terceiro porquê pra essa indagação: Porque as obras e movimentos oriundos de meios “não católicos” se mostraram importantíssimas na vida da Igreja recentemente. Três grandes movimentos precederam o Concílio Vaticano II: O Movimento Ecumênico, o Movimento Bíblico e o Movimento Litúrgico. Desses três, dois deles nasceram no protestantismo. Esses três movimentos foram inspirações poderosas para o Concílio Vaticano II. Além disso, o maior Movimento Eclesial da Igreja Católica recente, a Renovação Carismática, nasceu sob influência do Movimento Pentecostal nascido no meio Protestante.

4.       Um último porquê que eu ofereço pra essa indagação: Porque muitas vezes – infelizmente – os argumentos de muitos músicos e escritores católicos – que desejam proibir o acesso a autores não católicos – são em preocupações puramente mercadológicas.

Outra alegação é a seguinte: Por que vou ler ou escutar um autor que pode me conduzir ao erro, uma vez que ele não possui a verdade plena? E como poderia eu recomendar a leitura de um autor assim para outra pessoa? Vamos as respostas:

1.       Porque o Espírito Santo não é Deus de confusão. Se Ele está falando, eu quero escutá-lo, na certeza de que, enquanto é Ele quem fala, o conteúdo pode me edificar, ao invés de me confundir. Isso pressupõe conhecimento da doutrina da fé, é evidente, e a solução pra essa necessidade se chama ESTUDO ao invés de alfândega, proibição e desaconselhamento.

2.       Outro porquê: Porque o fato de um autor não possuir a verdade plena ou possuir graves erros não significa que ele não possua “verdade alguma”. Aliás, é por isso que podemos ler Sócrates (que era pagão), Aristóteles (que era pagão), Platão (que era pagão), Plotino (que era pagão), Flávio Josefo (que era judeu), Orígenes (que era católico), Alexander Mien (que era ortodoxo), C.S. Lewis (que era protestante) e tantos outros. A verdade é sempre digna da nossa atenção!

3.       Mais um porquê pra essa indagação: Porque se eu conheço um amigo ou amiga e sei do seu preparo doutrinário, posso muito bem indicar uma obra que seja edificante, mesmo que o autor da mesma não seja católico.

4.       Um último porquê: Porque não podemos ensinar a verdade como quem coloca um tampão nos ouvidos e nos olhos dos outros pra que eles não vejam nem escutem opiniões contrárias. Eu bem sei que membros da Igreja agiram assim em determinados momentos da história e sei, também, que há movimentos, institutos e congregações que agem assim até hoje, empobrecendo o livre exercício do pensar nos seus membros. Mas a solução para formar um povo de reta doutrina é: Dar formação ao invés de proibir ou “não recomendar” o acesso.

Uma última alegação que eu quero responder aqui: Mas a gente não pode preferir músicos católicos, priorizar músicos católicos, incentivar as canções de autores católicos? Não somente a gente pode como a gente deve! Valorizar aquilo que os irmãos que lutam lado a lado com a gente nos nossos grupos de oração é, no mínimo, justo e necessário! Eu aproveito aqui pra deixar bem claro:  ACHO QUE ISSO QUE DEVE SER FEITO! O que não pode acontecer é a gente atrelar esse incentivo dos nossos a uma proibição daqueles que embora não estando em comunhão plena, também podem nos edificar, porque esse tipo de proibição ou desaconselhamento – que, na práxis, funciona como uma proibição -  a Igreja não faz. O que é preferência nossa e valorização dos nossos irmãos que batalham lado a lado com a gente deve sempre ter esse caráter: O de preferência e valorização!

Eu entendo quando um católico tradicionalista toma uma posição arredia nesse campo – embora eu conheça vários de uma linha mais conservadora e de viés tradicionalista que reconhecem o maravilhoso legado luterano, anglicano e metodista no campo das artes (sobretudo na música). O que eu não posso aceitar e acho ser simplesmente inconcebível é ver um posicionamento arredio por parte de católicos afins à Renovação Carismática. No caso dos carismáticos... A oposição a tudo o que tenho exposto até agora é de uma ignorância que não tem tamanho e eu me sinto consternado com isso.

A questão ecumênica não é periférica, mas central e essencial na RCC.  Se o fato de um conteúdo ou experiência ser “protestante” é suficiente pra ser rejeitada... Então eu preciso concordar com o finado Prof. Orlando Fedeli e dizer aqui que a própria RCC é a fumaça de Satanás dentro da Igreja Católica, como ele dizia. E  por quê?

1.       Porque a RCC nasceu inegavelmente do Pentecostalismo Evangélico. Aqueles três professores batizados no Espírito Santo que organizaram o retiro de Dusquene leram livros evangélicos, frequentaram reuniões de oração evangélicas em casas de família e convidaram uma palestrante evangélica pro retiro de Duquesne!

2.       Nos inícios da RCC havia grupos frequentados por católicos e evangélicos juntos. Houve um grande congresso em 1977 no Kansas realizado por Católicos e Evangélicos – Aliás, diga-se de passagem, foi nesse congresso que o Frei Raniero Cantalamessa experimentou o primeiro impacto da experiência carismática.

3.       Eu ouvi da boca do Pe. Eduardo Dougherty, do Pe. Haroldo Rahm, do Reinaldo Beserra e do Tatá, meus amigos, que pastores evangélicos eram convidados a pregar nos nossos primeiros congressos e que membros de igrejas evangélicas participavam como conselheiros.

4.       Grande parte das músicas e da literatura usadas pela RCC por 40 anos era evangélica. Muitos dos nossos livros e apostilas oficiais possuem, em suas fontes bibliográficas, citações de livros de autores evangélicos.

É porque toda a verdade vem do Espírito Santo independente da pessoa que a pronuncia que nós podemos nos tranquilizar. A Igreja teve a capacidade de acolher a experiência pentecostal, recolher aquilo que era bom, rejeitar aquilo que não condiz com a nossa tradição e, assim, nós temos a RCC.  E este era o critério de ontem, é o critério de hoje e será o critério de amanhã e de sempre!

Eu quero agora, por fim, abordar a questão da licitude ou não de canções de autores não católicos nas Assembleias litúrgicas, sobretudo na Missa.

1.       Tudo que falamos até agora deve ser aplicado igualmente para a celebração Eucarística.

2.       Uma canção não se torna apta para a liturgia em virtude de seu autor, mas sim por seu conteúdo e melodia, que devem atender ao sentido litúrgico.

O livro de cânticos mais tradicional da Alemanha – O Gotteslob - pra citar um exemplo, tem músicas de autoria católica, luterana, e outras que não se sabe ao certo a proveniência do autor. Os alemães são tão metódicos e organizados que essas canções (as que não se sabe ao certo a autoria) estão dispostas com a mesma numeração tanto na versão católica quanto na versão luterana. Nos Estados Unidos esse livro foi traduzido ao inglês e é usado nas celebrações litúrgicas. Há canções desse livro traduzidas e cantadas na língua portuguesa que são de autoria protestante. Cito, por exemplo, o belíssimo hino “Deus Eterno a vós Louvor”.

Vou afirmar aqui sem medo algum: Há canções de autores protestantes muito mais apropriadas para a liturgia que certas canções de autores católicos por aí.

Mas até agora eu fiz citações de obras e autores do Protestantismo Clássico. Para que ninguém use essa desculpa, cito também algumas obras maravilhosas de autores do Pentecostalismo Clássico:

1.       Cito a Cantata Vento Livre da Igreja Batista do Morumbi, composta por Guilherme Kerr, Jorge Camargo, Jorge Rehder, João Alexandre e Nelson Bomilcar, com algumas canções sumamente apropriadas para a celebração da Santa Missa.
2.       Cito um sem fim de canções do cantor e compositor Asaph Borba. Dentre elas eu citaria, por exemplo, a Canção “Melhor é Dar” que daria um hino de campanha da Fraternidade e tanto!
3.       Cito o autor e compositor Bené Gomes, líder do Ministério Koinonia de Louvor, autor da Canção “Oferta de Amor”, tão cantada nos nossos ofertórios. 

Eu finalizo essa reflexão fazendo algumas ressalvas importantes, alguns cuidados pastorais que precisamos ter e algumas premissas que merecem ser ressaltadas no final de toda essa reflexão:

1.       Em nossos cultos de oração a música deve ser necessariamente católica.
2.       A autoria não confere necessariamente catolicidade a uma obra.
3.       Toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo.

Alguns cuidados pastorais:

A Igreja Evangélica no mundo é uma igreja em crise. A Teologia da Prosperidade infestou muitas igrejas e o resultado é pernicioso. Alguns evangélicos ainda batem no peito dizendo: “O número de evangélicos está crescendo... Seremos maioria em pouco tempo, etc”... Mas o fato é que esse crescimento é preocupante até para os evangélicos sérios que existem e estão por aí. Por quê? Porque a imoralidade tah crescendo, o pecado tah crescendo, a carnalidade tah crescendo e o número de evangélicos está crescendo? Muito estranho! No Avivamento de Azuza Street, em 1906, que é o marco do Movimento Pentecostal, houve em Los Angeles uma diminuição da criminalidade e da imoralidade – e isto está até registrado nos jornais!!! A Igreja Evangélica que está crescendo no Brasil é a da “prosperidade”, aquela que tem o HOMEM no centro e Deus como seu servo! Como consequência disso, as canções dos últimos 20 anos maios ou menos estão cheias dessa teologia da prosperidade. Portanto, meus amigos, precisamos conhecer a doutrina pra não encher o nosso culto dessa nefasta doença que está tomando o cristianismo!

A formação do nosso povo é uma necessidade imperiosa. 


De verdade, que saudades de tempos nos quais os autores de qualquer obra cristã ao invés de assinarem seus nomes escreviam apenas “Para a Glória de Deus”.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O LIVRO DO APOCALIPSE E A LITURGIA DA SANTA MISSA


O Apocalipse como Chave de Leitura para o entendimento da Santa Missa: A dimensão Escatológica da Liturgia

Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos, nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo; por meio dela cantamos ao Senhor um hino de glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa vida e nós aparecermos com Ele na glória. (Sacrossantum Concilium).

Em seu livro O Banquete do Cordeiro o Dr. Scott Hahn, Ph.D. defende que o livro do Apocalipse é a chave de leitura para o entendimento da Santa Missa e que, por sua vez, a Santa Missa é a chave de leitura para o entendimento do Apocalipse.

Logo no prefácio do livro, o Padre Benedict J. Groeschel afirma:

A Missa, ou, como é chamada de forma mais precisa nas Igrejas Orientais, a Divina Liturgia, é uma realidade tão rica que há tantas abordagens teológicas válidas para ela como existem para todo o mistério do próprio Cristo. A Eucaristia é parte da grande montanha viva que é Cristo, uma imagem utilizada pelos santos antigos da Terra Santa. Esta montanha pode ser abordada a partir de muitos lados. Esta abordagem escatológica é uma das mais intrigantes e frutíferas.

Scott recorda que o desejo de Deus no Apocalipse é, como o próprio nome do livro diz, revelar algo ao invés de esconder algo enigmaticamente. Infelizmente, a simples ideia de que o Apocalipse tenha alguma relação com a Santa Missa parece absurda para muitos cristãos.

Sobre esta abordagem de Scott, Pe. Benedict afirma:

A Missa na terra é a apresentação do Banquete das núpcias do Cordeiro. Como o Dr. Hahn aponta, a maioria dos cristãos ou se esquiva do livro do Apocalipse e seus misteriosos sinais ou criam suas próprias pequenas teorias peculiares sobre quem é quem e onde tudo vai acabar.

A visão do Apocalipse como sendo a celebração da nossa liturgia desde as perspectivas celestiais é baseada numa interpretação escatológica muito antiga da Eucaristia dada pelos Padre Orientais do Século II a VI. O Padre Benedict recorda que Santo Agostinho foi um dos Bispos a insistir na permanência do Livro do Apocalipse (bem como da Carta ao Hebreus) no cânon das escrituras:

Foi Santo Agostinho que insistiu em colocar o Apocalipse, bem como a carta aos Hebreus, no Cânon do Novo Testamento no Concílio dos bispos africanos realizado no final do século IV. Podemos espiritualmente, por Sua grande misericórdia, “tocar por um instante a Fonte da Vida onde Ele alimenta Israel para sempre." Mas, além desses momentos especiais de contemplação, podemos ver simbolicamente na celebração diária da missa as realidades da adoração celestial do Sumo Sacerdote e Seu corpo místico.

São João Paulo II chamou a missa de “céu na terra'', explicando que ' a liturgia que celebramos na terra é uma misteriosa participação na liturgia celeste." Contando sua experiência de conversão, aquele que era, então, um Pastor Presbiteriano, descreveu assim suas impressões a respeito da missa:

Voltei à missa no dia seguinte e no outro dia e no outro. Cada vez que eu voltava, eu 'descobria'' mais passagens das Escrituras cumpridas diante dos meus olhos. No entanto, nenhum livro foi tão visível para mim, naquela capela escura, quanto o Livro da Revelação, o Apocalipse, que descreve a adoração dos anjos e santos do céu. Como no livro, vi, nessa capela, sacerdotes paramentados, um altar, uma congregação cantando '' santo, santo, santo ''. Eu vi a fumaça de incenso; ouvi a invocação de anjos e santos, eu mesmo cantei os “aleluias”, pois fui atraído cada vez mais a este culto. Eu continuei a sentar-me no último banco com a minha Bíblia, e eu mal sabia para onde olhar - para a ação no Apocalipse ou a ação no altar. Cada vez mais, elas pareciam ser a mesma ação.

E continua:

Mergulhei com vigor renovado em meu estudo do cristianismo antigo e descobri que os primeiros bispos, os Padres da Igreja, tinham feito a mesma '' descoberta '' que eu estava fazendo todas as manhãs. Eles consideravam o livro do Apocalipse a chave para a liturgia, e a liturgia a chave do livro do Apocalipse. Algo poderoso estava acontecendo comigo como estudioso e crente. O livro da Bíblia que eu tinha encontrado mais desconcertante, o Livro de Apocalipse, agora iluminava as ideias que eram mais fundamentais para a minha fé: a ideia da aliança como elo sagrado da família de Deus. Além disso, a ação que eu tinha considerado a suprema blasfêmia - a Missa - agora acabou por ser o evento que selou a aliança de Deus. '' Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança.''

Ele recorda, também, que a palavra parusia, já cunhada para aludir à segunda vinda de Cristo, significa, antes de tudo, presença. O livro não é somente profecia acerca de coisas que hão de vir, mas revelação para o hoje da Igreja. Fala da parusia do Senhor na Igreja.

Hoje em dia, a maioria de nós associamos parusia com a segunda vinda de Jesus no fim do mundo. E isto é verdade sim; São João e Jesus estavam falando do final da história. Penso, no entanto, que também — e principalmente — estavam falando do fim de um mundo: a destruição do Templo de Jerusalém, e com ela o fim do mundo da Antiga Aliança, com seus sacrifícios e rituais, e suas barreiras entre céu e terra. A parusia (ou vinda) de Jesus seria mais que um final; seria um começo, uma nova Jerusalém, uma Nova Aliança, um céu e uma terra novos.

Tanto São João como Jesus se referem não só a uma distante parusia, ou retorno, mas à contínua parusia de Jesus, que teve lugar na primeira geração cristã, como continua tendo lugar hoje. Não deveríamos esquecer que o sentido original da palavra grega parusia é “presença” e a presença de Jesus é real e permanente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Por isso, quando João e Jesus disseram “logo”, creio que diziam muito literalmente. Pois a Igreja é o reino que já começou sobre a terra, e é o lugar da parusia em cada Missa.

“A liturgia é uma parusia antecipada, a irrupção do "já" no "ainda não"», escreveu o cardeal Joseph Ratzinger.

São João, talvez o maior mestre no método da tipologia bíblica, diz, no primeiro capítulo do Apocalipse: “No primeiro dia da semana, eu, João vi”. Há, aqui, uma clara alusão ao Domingo, o Dia do Senhor no qual tradicionalmente se celebrava a Eucaristia.

Muitos estudiosos (até mesmo protestantes) confirmam o fato de que existe, no Apocalipse, um rito, uma liturgia acontecendo. As descrições de São João batem perfeitamente com o Templo construído por Salomão (que por volta daquele tempo já havia sido destruído). João vê candelabros, altar, sacerdotes paramentados, o cordeiro, incenso, anjos, santos, a virgem Maria como a Nova Arca da Aliança e a mulher vestida de Sol; há frases e respostas, momentos de exultação e momentos de um profundo silêncio.

Scott Hahn descreve:

Só quando comecei a participa da missa que muitas partes deste “livro quebra-cabeças” começaram de repente a se encaixar. Não passou muito, eu consegui ver o sentido do altar da Revelação (Ap 8,3), seus sacerdotes revestidos (Ap 4,4), velas (Ap 1,12), incenso (Ap 5,8), o maná (Ap 2,17), os cálices (Ap 16), o culto dominical (Ap 1,10), a importância dada à Santíssima Virgem Maria (Ap 12,1-6), O “Santo, Santo, Santo “(Ap 4,8), o Glória (Ap 15,3-4), o sinal da Cruz (Ap 14,1), o Aleluia (Ap 19, 1.3.6), as leituras da Escritura (Ap 2-3) e o “Cordeiro de Deus” (muitas e muitas vezes). Tudo isso não são interrupções da narrativa ou detalhes acidentais, são a substância do Apocalipse.

O Dr. Hahn nos faz perceber o que, para um judeu daquele tempo, seria nítido e revelador: João vê o Templo! O templo é o lugar do sacrifício, do sacerdócio, da liturgia, da celebração da aliança. Vejamos o que o Doutor diz a respeito:

No Templo, como no céu de João, o menorah (sete candelabros de ouro, Ap 1,12) e o altar do incenso (8,3-5) estavam diante do Santo dos Santos. Quatro querubins esculpidos adornavam as paredes no Templo, como as quatro criaturas viventes que serviam diante do trono no Céu joanino. Os vinte e quatro anciãos de Apocalipse 4,4 (em grego presbyteroi, de onde provem o termo “presbíteros”) copiam as vinte e quatro divisões sacerdotais que oficiavam o Templo ao longo do ano. O “oceano transparente como um cristal” (Ap 4,6) era a grande piscina de bronze do Templo, com capacidade de 50.000 litros de água. No centro do Templo apocalíptico, tal como no Templo de Salomão, estava a Arca da Aliança (Ap 11,19).

O Apocalipse era uma revelação do Templo – mas, para os judeus devotos e os convertidos ao cristianismo, ele também revelava muito mais.  Pois o Templo e suas ornamentações apontavam às realidades mais elevadas. Como Moisés (veja Ex 25,9), o rei Davi tinha recebido o plano do Templo do próprio Deus:

“Tudo isso segundo o que o Senhor tinha escrito com sua própria mão para tornar compreensível todo o trabalho cujo modelo ele dava” (1Cr 28,19).  O Templo deveria ser construído imitando a corte celeste: “Mandaste-me construir um templo no vosso santo e um altar na cidade onde fixaste a tua tenda: cópia da tenda santa que preparaste desde a origem”. (Sb 9,8)

De acordo com as antigas tradições judaicas, a adoração no Templo de Jerusalém imitava a adoração dos anjos no céu. O sacerdócio levítico, a liturgia da aliança, os sacrifícios eram um espelho dos modelos celestes.

Scott escreve:

O livro do Apocalipse apontava ainda para algo diferente, algo maior. Enquanto Israel orava imitando os anjos, a Igreja do Apocalipse adorava junto com os anjos (19,10). Enquanto somente os sacerdotes eram permitidos no lugar sagrado do Templo de Jerusalém, o Apocalipse mostra uma nação sacerdotal (5,10; 20,6) vivendo sempre na presença de Deus. Daí em diante não haveria já um arquétipo celeste e uma imitação terrena. O Apocalipse agora revelava um único culto compartilhado por homens e anjos!

Olhe de novo e descubra que o fio de ouro da liturgia é o que sustenta as pérolas apocalípticas da visão de São João:

Culto dominical      Ap 1,10
Sumo Sacerdote      Ap 1,13
Altar   Ap 8,3-4; 11,1; 14,18
Sacerdotes (presbyteroi)   Ap 4,4; 11,15; 14,3; 19,4
Ornamentos Ap 1,13; 4,4; 6,11; 7,9; 15,6; 19,13-14
Célibes consagrados           Ap 14,4
Candelabros, ou menorah            Ap 1,12; 2,5
Penitência    Ap 2 e 3
Incenso         Ap 5,8; 8,3-5
Livro ou pergaminho         Ap 5,1
Hóstia Eucarística  Ap 2,17
Cálices           Ap 15,7; cap. 16; 21,9
O sinal da cruz (o tau)       Ap 7,3; 14,1; 22,4
O Glória        Ap 15,3-4
O Aleluia       Ap 19, 1.3.4.6
Elevemos o coração            Ap 11,12
“Santo, Santo, Santo”        Ap 4,8
O Amém       Ap 19,4; 22,21
O “Cordeiro de Deus” Ap 5,6 e ao longo de todo o livro
O lugar proeminente da Virgem Maria Ap 12,1-6; 13-17
Intercessão de anjos e santos      Ap 5,8; 6,9-10; 8,3-4
Devoção a São Miguel        Ap 12,7
Canto de antífonas Ap 4,8-11; 5,9-14; 7,10-12; 18,1-8
Leitura da Sagrada Escritura       Ap 2-3; 5; 8,2-11
Sacerdócio dos fiéis     Ap 1,6; 20,6
Catolicidade ou universalidade   Ap 7,9
Silêncio meditativo                Ap 8,1
O banquete nupcial do Cordeiro Ap 19,9; 17

Em conjunto, estes elementos constituem muito do Apocalipse... e a maior parte da Missa. Outros elementos litúrgicos do Apocalipse podem passar facilmente inadvertidos aos leitores de hoje. Por exemplo, pouca gente sabe que as trombetas e as arpas eram os instrumentos oficiais da música litúrgica nos tempos de João, como o são hoje os órgãos no Ocidente. E ao longo da visão de João, os anjos e Jesus bendizem usando fórmulas litúrgicas estabelecidas: “bendito o que...”. Se você voltar a ler o Apocalipse de cima a baixo, se dará conta também de que todas as grandes intervenções históricas de Deus — pragas, guerras, etc.— seguem ao pé da letra ações litúrgicas: hinos, doxologias, libações, incensários.


O livro de Scott merece realmente ser lido na íntegra, mas o que fica claro e evidente aqui é que: O Apocalipse é a Liturgia Eucarística desde a perspectiva celestial, e Deus quis nos dar esta perspectiva quando inspirou o hagiógrafo. O cordeiro, que está imolado, mas está de pé e vive pelos séculos dos séculos é o Cristo Jesus, presença real em nossos altares. Aleluia!